A UFMG se destaca no cenário nacional pela importância das suas parcerias com a indústria, e não estaria nessa posição se não fosse pelas fundações de apoio, que a ajudam a fazer o que precisa ser feito: formar pessoas e transferir conhecimento para a sociedade. O reconhecimento da reitora Sandra Regina Goulart Almeida, pelos 50 anos da Fundação Christiano Ottoni, foi referendado por representantes do governo e da indústria, que participaram de solenidade celebrativa, na noite de ontem, 13 de agosto, no auditório da Escola de Engenharia.
O subsecretário de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Lucas Mendes de Faria Rosa Soares, também destacou a FCO como “referência para o estado na conexão do setor produtivo com a academia e na viabilização da transferência da inovação”.
Segundo o subsecretário, Minas Gerais “tem sorte” por sediar o maior número de instituições de ensino superior, “que se destacam, não somente pela pesquisa básica, mas também pela interação com os setores produtivos, e vêm contribuindo, de forma crescente, para o desenvolvimento social e econômico de Minas”.
Processos, infraestrutura e ‘massa crítica’
Egressos da Escola de Engenharia e representantes do setor empresarial, o gerente de negócios da IHM Stefanini, Davi de Paula Cardoso, e o vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis para a América do Sul, João Irineu Medeiros, exaltaram o papel da Fundação na trajetória das empresas.
“No início da industrialização de carros no estado, era apenas manufatura, com toda a tecnologia e inovação importada. Percebemos que precisávamos de planejamento e metodologia para mudar aquele cenário. E foi aí que vimos na FCO a oportunidade de novas metodologias e processos, infraestrutura de laboratórios e pessoas competentes”, relembrou o vice-presidente da Stellantis.
Medeiros acrescentou que, “com o passar do tempo, os acionistas passaram a investir na mão de obra local, e a FCO teve fundamental importância na formação de uma massa crítica de 4 mil engenheiros no estado, capacitados para produzir carros desde o design às tecnologias eletroeletrônica, híbrida e elétrica”.
O industrial enfatizou ainda que, atualmente, o maior desafio do grupo é a descarbonização para a preservação do meio ambiente e, para isso, continuará a contar com a FCO.
Para Davi Cardoso, da HIM Stefanini, empresa de engenharia elétrica, automação e ciência de dados, “a FCO, por estar atrelada à UFMG, que é referência em qualidade técnica e formação de talentos, tornou a parceria essencial para a otimização de processos e desenvolvimento tecnológico da empresa”.
Com a vinculação à FCO, a empresa tem acesso aos serviços do Laboratório de Inteligência Computacional da UFMG, que, segundo Cardoso, possibilitou maior “precisão, qualidade e eficiência nos processos de inteligência industrial e ciência de dados, viabilizados por complexos modelos matemáticos”.
Contribuição histórica
Ao longo dos 113 anos de trajetória da Escola de Engenharia, a FCO tem papel fundamental e indissociável, segundo o diretor da unidade, professor Cícero Starling. “Muito do que a Escola alcançou tem a contribuição da FCO, por meio dessa conexão imprescindível da engenharia com o setor produtivo. Uma interação por meio de sólidos processos de governança”, afirmou.
Para o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, que é professor da Escola de Engenharia, “a proximidade da FCO com essa unidade acadêmica traz dinamismo e flexibilidade às parcerias e ao cuidado com a inovação produzida”. O vice-reitor enfatizou que a Fundação tem tradição no “apoio ao ensino e ao protagonismo estudantil por meio tanto de ações internas quanto da internacionalização”.
Em discurso emocionado, o presidente da FCO, Benjamin de Menezes, professor emérito da UFMG, fez uma retrospectiva da história da Fundação e entregou à reitora Sandra Goulart uma cópia do relatório comemorativo dos 50 anos da entidade, cujo nome homenageia Christiano Ottoni, patrono da engenharia brasileira.
“Devemos muito aos fundadores e colaboradores, como o professor Hugo Luiz Sepúlveda, pela visionária criação da Fundação, aprovada pelo reitor Eduardo Osório Cisalpino em 25 de março de 1974. Essa trajetória de 50 anos foi marcada por muitos desafios, mas levou à consolidação de parcerias que a projetaram no cenário nacional”, afirmou.
Benjamim também recordou o momento de ameaça à extinção das 42 fundações de apoio, inclusive Fepe, Fump e Fundep, vinculadas à UFMG, durante o governo José Sarney. Mais tarde, o cenário mudou e a infraestrutura tecnológica da FCO foi aperfeiçoada, até a transferência definitiva, junto com a Escola de Engenharia, para o campus Pampulha, em 2010.
“Alcançamos uma governança marcada por transparência, planejamento estratégico e proteção de dados, o que tornou a FCO referência no cenário nacional”, concluiu o diretor.
Também participaram da solenidade o diretor do Conselho Curador da Fundação Christiano Ottoni, professor José Osvaldo Saldanha (45 anos na FCO), o presidente da Fundep, professor Jaime Arturo Ramírez (reitor da UFMG em 2014-2018), o professor Ronaldo Tadeu Pena (reitor na gestão 2006-2010), a presidente da Fump, professora Teresa Cristina da Silva Kurimoto, e o presidente da Fepe, professor Leorges Moraes da Fonseca.
Atuação
Além da gestão administrativa e financeira de projetos da Escola de Engenharia e de outras unidades acadêmicas da UFMG, a FCO oferece soluções e serviços para a gestão de projetos de pesquisa e de extensão, como cursos de especialização, aprimoramento e pré-vestibular, gestão financeira de eventos, competições, entre outros.
Nos últimos 10 anos, a Fundação administrou mais de R$ 300 milhões em recursos e apoiou o desenvolvimento de mais de 3 mil projetos de pesquisa, ensino e extensão, nas diversas áreas do conhecimento, também de outras instituições de ciência e tecnologia (ICTs) e de empresas credenciadas, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária, além da Polícia de Militar e da Feluma.
Um dos projetos geridos pela FCO visa ao desenvolvimento de estratégias inovadoras para recuperação de ecossistemas aquáticos para abastecimento da indústria de óleo e gás da Petrobras. Iniciado em 2024, o projeto, com recursos de R$ 13 milhões, é de responsabilidade da Escola de Engenharia da UFMG e deverá ser concluído em 2027.
A FCO também faz a gestão de R$ 4 milhões da Vale, investidos em ensaios com amostras de rocha. Outro destaque é o Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno (CT-Nano/UFMG) e da sua Unidade Embrapii. A Unidade oferece um conjunto de competências únicas na combinação de síntese, processamento e caracterização de nanomateriais, nanocompósitos e nanossensores de alto desempenho, atendendo às demandas tecnológicas de toda a cadeia de valor do nano.
Em convênio com a Cemig, foram geridos diversos projetos, como a planta-piloto de sistemas de armazenamento de energia em baterias (Saebs), instalada no campus Pampulha com o objetivo de avaliar os impactos técnicos, regulatórios, econômicos, operacionais e ambientais da integração de Saebs à rede de distribuição de energia elétrica.
Também estão em execução projetos em Minas Gerais em parceria com as empresas Copasa, Vale e Horeb e, em outros estados, parcerias com os governos de Rondônia, Sergipe e Tocantins.
Elo de parcerias e negócios
Atenta às oportunidades para o avanço científico e tecnológico, a FCO também atua em busca de parcerias, conectando pesquisadores, governo e empresas, por meio do Escritório de Ligação (ELO UFMG), criado em 2011 pela Escola de Engenharia e sob a gestão da Fundação. É uma ferramenta inovadora, inspirada em algumas das maiores universidades do mundo, para fazer a ligação entre a Escola de Engenharia da UFMG e empresas privadas, órgãos públicos e demais segmentos da sociedade. Por meio de mapeamento tecnológico, o ELO cadastrou, nos últimos anos, 159 pesquisadores, 20 laboratórios de pesquisa e inúmeros casos de projetos e seus resultados.
Com Cedecom UFMG
Textos: Teresa Sanches e Samantha Mapa